sábado, 31 de março de 2012

Te peguei?


Na balada das crônicas, nem sempre o tema cai fácil da cabeça do cronista.


Às vezes, nem cai.

E aí surge o pretexto, ou melhor, o pré-texto, um "nariz de cera ", mentindo que o assunto, já a postos para resolver a parada, foi ao banheiro, ou pior, mentindo que ele existe, assim como uma tribo africana que elegeu um avião como o seu deus.

O pior é quando um assunto, se dizendo alvissareiro, chega cheio de pompas e, com um sorriso de estelionatário, induz a gente a tratá-lo como casamento real.

Debalde: aquilo que a vã filosofia supunha ser um achado, prova-se um tempo perdido que, como tudo que o vento leva, levou.

O cronista, desesperado, insatisfeito com o redemoinho de vocábulos que varre sua cabeça, pescador frustrado, sem peixes e sem mais iscas, apega-se à música que corre pelos ouvidos do mundo e ameaça o assunto fugidio: "... Assim você me mata, ai se eu te pego, ai ai se eu te pego".

Tenho certeza que na história da crônica – aliás, não tenho certeza de nada – pouco sei sobre ela. Afinal, o que é mesmo a crônica? Tentemos entendê-la:

Chronos (não confundir com Cronos) era o semideus do Tempo e de seu nome deriva a crônica, como um relato histórico. Os primeiros historiadores foram os cronistas da antiguidade.

Nos dias de hoje, temos a crônica jornalística em diversas áreas: política; policial; artística e

a crônica também no sentido literário.


A crônica na imprensa nasceu num espaço físico determinado nas páginas de jornais: o rodapé, ou seja, a crônica foi um produto para também ocupar o espaço do rodapé onde se publicavam os folhetins (novelas ou romances).  O folhetim provou que entretenimento vendia mais jornais.

O folhetim (Le feuilleton), entendido como um grande texto publicado periodicamente em trechos, surgiu na década de 1830, em La Presse, na França. Ocupava o rodapé dos jornais.

Grandes escritores universais lançaram suas obras em folhetins, antes mesmo de suas edições em livros chegarem às livrarias e, no Brasil, autores como Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Lima Barreto, Machado de Assis e Manuel Antônio de Almeida tiveram obras lançadas nos jornais, como folhetins.

O romance urbano A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, é considerado o exemplo de folhetim mais popular da história do Brasil, sucesso de vendas numa época em que o analfabetismo predominava no país.

A sucessora popular do folhetim foi a radionovela, por sua vez, sucedida pela telenovela.

Se o leitor me perguntar, hoje, o que é uma crônica, direi que se trata de um texto, não longo, nem telegráfico, que pode ser literário, em prosa ou verso, ou mesmo de humor, política... Uma crônica é a cabeça de quem a assina.

No caso deste meu texto, o assunto que não me surgia estava na cara: a crônica. Demorei a pegá-la.
Inté.

Mario de Almeida in Coletiva.net

Nenhum comentário: