Uma grande amiga, hoje desfrutando de uma merecida aposentadoria numa aprazível e recreativa cidade mineira, postou no Face uma foto de uma bela borboleta que pousara em uma árvore em frente à sua casa. Ela escreveu que a dita cuja tinha uns vinte centímetros de comprimento e que precisou chegar "pertíssimo" dela para poder fotografá-la com o IPhone. Frisou que ela ficou ali parada posando para as fotos, talvez vaidosa do interesse provocado, e só voou para seu destino frágil, frugal e breve, depois de concluso o ensaio fotográfico.
Olhei para a foto da bicha, toda se achando na cor marrom-avermelhada, com manchas brancas e uns bordados amarelos, pensei nos vinte centímetros, quase uma folha sulfite dessas espalhadas na minha mesa (alguém tem que trabalhar para outros se aposentarem) e concluí que, se dependesse de mim, a borboleta só seria eternizada se eu pudesse fotografá-la de longe, muito longe, com minha câmera com zoom potentíssimo. Medo? Pavor? Não, respeito pela mãe natureza e seus filhos alados!
Imaginei-me "pertíssimo" da folha de sulfite voadora e ela pousando na minha cabeça. Horror! Desastre total! Afinal, sou um homem nascido e criado em apartamentos, no Rio de Janeiro, sem preparo para encarar coisas voadoras de vinte centímetros (tem gente que vai pensar bobagem ...). Insetos para mim eram só baratinhas francesas (chique, não?), bichos de luz (cupins alados, ou siriris) e pernilongos eventuais. Baratas cascudas voadoras já eram um "deus nos acuda". As baratinhas dançavam na dedetização semestral, os siriris afogavam-se nas bacias e baldes com água e os pernilongos sucumbiam em potentes jatos de Flit, Detefon ou Rodox. Nas ruas e parques encontrava uma ou outra borboletinha amarela, branca, azul ou preta, besouros, joaninhas, formigas de diversos tamanhos, coisas inofensivas. Perigosas eram as abelhas nas lixeiras do BOB'S, atrás do suco de laranja, algumas vespas desgarradas e, principalmente, os "lacerdinhas", uns bichinhos pretos, que se criavam em folhas de fícus enroladas e que, levados pelo vento e/ou pela gravidade, costumavam cair nos olhos das pessoas, que ardiam muito. Os meus "quatro olhos" atraíam os infelizes, tendo que trocar de calçada ou de rua para evitá-los. Para combatê-los, a prefeitura usava o "fumacê", veículo que passava pelas ruas expelindo fumaça com inseticida. Lacerdinha em "homenagem" ao Carlos Lacerda, político carioca que incomodava muita gente. Fui ao dicionário: os insetos foram introduzidos no Brasil nos anos 60, auge do Lacerda. São também conhecidos como "barbudinho" e "azucrinol", palavra com cara dos anos 60/70: não me azucrine, bicho! (Este texto está como a música do Lupicínio: ... como é que a gente voa quando começa a pensar...)
Voltando à borboleta mineira, fui ler os comentários da foto no Face e encontrei uma pessoa com o mesmo respeito pela natureza e seus filhos alados: "Q vc acha q ia acontecer se fosse euzinha a encontrar esta bitela?!!!!" Resposta da minha amiga: "Dani, vc iria voltar para o México nadando!"
Pelo visto, essa Dani tem muito mais respeito pelos gigantes voadores do que eu!
José FRID
(Borboletas e poetas são inseparáveis, como dizia Drummond. Leia aqui uma poesia de Mario Quintana de como atrair borboletas e pessoas queridas e acá poesia de Manoel de Barros que propõe a renovação do ser humano pelas borboletas)
OBS em 2014:
A borboleta deve ser, na verdade, uma mariposa! Asas abertas e antenas grossas!
(Borboletas e poetas são inseparáveis, como dizia Drummond. Leia aqui uma poesia de Mario Quintana de como atrair borboletas e pessoas queridas e acá poesia de Manoel de Barros que propõe a renovação do ser humano pelas borboletas)
OBS em 2014:
A borboleta deve ser, na verdade, uma mariposa! Asas abertas e antenas grossas!
19 comentários:
Muito bacana a crônica! Ri demais, e me identifiquei pois meu marido tem horror a borboletas, mariposas e afins...rs...Parabéns.
Abraços,
Fernanda R.
Seu marido é sábio!! Não é horror, é respeito ....!
Minha mulher foi criada em cidade do interior, idas a fazendas, etc., logo ela se encarrega de dar fim aos insetos indesejados!
Por outro lado, ela tem trauma de infância com relação a pássaros. Eu, que fui criador de canários, tenho que assumir esse lado...
Grande abraço!
José FRID
Obrigada por deixar esta quinta feira mais alegre. Fico encantada com seus escritos. Como pode ter tantas idéias em cima de qualquer coisa! Qualquer coisa não, uma filha da natureza. (e com 20 cm.)
Bom meu caro quero estar no lançamento do livro e lhe parabenizá-lo pessoalmente! Mesmo que no RJ! Não deixe de me avisar!
abs
Marcia F.
Você sempre generosa!!
Depois eu que sou vovó, não conheço Flit, Detefon ou Rodox.
Só conheço SPB ou RAID.
Helena.
Você está pior que eu: esqueceu o passado e só lembra dos anúncios de ontem na tevê!
muito boa!
Henrique
Só não posso trabalhar com o Coronel Leite!
Hahahaha! Boa, Frid!!
Gostei do nome da foto: "Borboleta da Néli" !!!!!
beijo,
Joanna
Fiz besteira em colocar o nome dela! Agora vou ter que morrer numa grana preta em pizzas e chopes para pagar os direitos autorais!
Caro Frid, aqui é a Dani, aquela que super respeita a natureza! Na verdade esse é um trauma herdado, passado de mãe pra filha!! De avião a mosquito, respeito tudo q voa! Abraços e parabéns pela crônica!
Seja como for,borboletas são lindas e livres...
Regina
Concordo, mas as grandes bem longe de mim!
Dani
O meu problema maior é com os insetos voadores, principalmente os maiores! Pássaros até admiro, fui criador de canários ...minha mulher é que tem trauma com eles! Mas isso é assunto para outra crônica!
Muito bom.Eu amo as borboletas
Margarida
Frid, mais uma de suas belíssimas crônicas.
Fiquei feliz de você ter se inspirado nesta foto da borboleta.
Muitos chopes vão rolar por conta.
Adorei!
Abraço, Néli.
Olá, Frid.
Como vai seu "primordial" ano?
Qto à borboleta, de fato, é uma bitel, como disseram. Uma belíssima espécie.
Sabe que, às vezes, no quintal de casa, tb plainam belas versões e, se ñ estou me enganando, já vi uma dessas por lá. Claro que não tão gde assim.
Dê parabéns a ela.
Abçs e td de bom.
Zélia
Bom 2013 para você, com muitas belas borboletas enfeitando seus dias!!
O ser humano, realmente, é um bicho esquisito...eu não tenho medo, mas não gosto de expulsar insetos não...ninguém merece!
E assim como sua esposa, minha irmã tem pavor a pássaros (em especial, pombas e galinhas), a ponto de ficar em estado de choque ...vai entender!
Abraços! Tudo de melhor para você!
Fernanda R.
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