- Bem, primeiro de tudo é um 'fantaseo', uma espécie de especulação em torno de certo personagem ou certa situação, algo que simplesmente ocorre na mente. E depois começo a tomar notas, faço fichas, trajetórias anedóticas - um personagem começa aqui, termina ali, faz isso. Esse outro personagem começa aqui, acaba ali - enfim, elaboro essas pequenas trajetórias. E, quando já vou começar a trabalhar num livro, faço primeiro um esquema geral da história - que nunca respeito, que depois mudo completamente, mas que me serve para começar a operar. Depois começo a redigir, e redijo bem depressa, sem parar, sem nenhuma preocupação com estilo, repetindo episódios, narrando situações contraditórias...
Para que tudo já passe de uma vez ao papel, não?
- Sim, porque esse material bruto me serve, me dá segurança. É a parte do trabalho que me custa mais. Trabalho sempre com muita insegurança, não estou nunca certo quanto aos resultados quando estou fazendo isso. Essa primeira versão é muito angustiante para mim. Agora, uma vez terminado esse rascunho - que às vezes me toma muito tempo, como ocorreu com 'A guerra do fim do mundo', em que gastei dois anos nessa fase -, então é muito diferente. Já tenho, então, a segurança de que a história está ali, imersa, submergida nesse 'magma' - é como o chamo, já lhe mencionei isso. Ou seja, uma espécie de caos em que implicitamente está contido o romance, mas como que escondido debaixo de uma grande pilha de folhas secas, de episódios completamente adventícios que vão desaparecer, muitas vezes episódios repetidos de diferentes perspectivas, por meio de diferentes personagens. É algo muito caótico que apenas para mim faz sentido. A história, contudo, está ali. É necessário buscá-la, limpá-la, e é a parte do trabalho que para mim é mais agradável.
Por quê?
- Já posso trabalhar muito mais tempo, não trabalho com tanta angústia e tensão, como ocorre quando estou no rascunho. A mim agrada não tanto escrever, mas reescrever, cortar, editar, corrigir. Essa é a parte realmente mais criativa do trabalho.
Mario Vargas Llosa
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