Como o tradutor Pedro Gonzaga alerta na apresentação do livro "Misto Quente:
Em primeiro lugar, Charles Bukowski não é o personagem-narrador de seus textos.Seus personagens são criações literárias, invenções elaboradas e não simples colagens da vida do autor. O forte caráter autobiográfico que pode, com certeza, ser encontrado ao longo de toda obra é somente meio e nunca fim. Tanto o velho safado como Henry Chinaski, protagonista do livro que o leitor tem em mãos, são alter egos ficcionais.
Em segundo lugar, a simplicidade aparente do texto, a narração direta dos eventos (tão cara à ficção americana) é ardilosamente arquitetada por um autor que domina perfeitamente as técnicas do fazer literário. Ou seja, toda a fluência pregada pelos personagens de escritor criados por Bukowski, ainda que espelhos dele próprio - e não há reflexo mais enganoso -, é uma construção elaborada, dissimulada pelo louvor à bebida e à escrita não convencional. Os palavrões, a escatologia, os porres homéricos são mentiras que nos convencem da verdade, mentiras que nos fazem acreditar, mentiras que tornam nossas próprias misérias mais suportáveis, mentiras que são a base primeira da literatura, lembrando a vigorosa ideia de Vargas Llosa.
Charles Bukowski in "Misto Quente", L&PM, abril de 2013, pág. 92
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