terça-feira, 18 de março de 2014

O Gato


Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
    Guarda essas garras devagar,
E nos teus belos olhos de ágata e aço
     Deixa-me aos poucos mergulhar.


Quando meus dedos cobrem de carícias
     Tua cabeça e o dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delícias
      De afagar-te o elétrico dorso,


Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo
      Como o teu, amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,


E, dos pés à cabeça, um fino
      Ar sutil, um perfume que envenena
Envolvem-lhe a carne morena.

Charles Baudelaire in "As Flores do mal", tradução de Ivan Junqueira

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