quarta-feira, 16 de abril de 2014

She try ....


Os primeiros ruídos do sol ao sair do mar a despertaram. Deixara a janela aberta para desfrutar da brisa marinha. Paulinho odiava ar condicionado. Para tê-lo na cama ao seu lado, como agora, só com a janela escancarada. Ao seu lado, em cima, embaixo, dentro, fora, dentro, fora. Repleta, levantou da cama, caminhou nua até a janela. Prenunciava-se uma bela manhã. Fechou os vidros e as cortinas, hora de dormir, manhã é assunto para bebês, mães e atletas, coisas que, graças a deus, ela não era. Caminhou de volta no breu do quarto procurando suas roupas. Só achou a cueca e a camiseta dele. Vestiu-as, bom manter o cheiro dele junto a ela. Ligou o ar condicionado e puxou o lençol para si. Ele poderia ir dormir no sofá da sala. Já a satisfizera.

A lancha afasta-se lentamente do cais. Ela está sentada atrás, com os longos dedos cortando a água ainda gelada. Usa um largo chapéu de um amarelo solar. À sua frente está o marujo pilotando a embarcação. Corpo moldado não em academias, mas definido nas lides da vida, cada músculo no limite de sua utilidade. Ele é servil e educado: "Senhora, possa ajudá-la?" "Senhora, para onde vamos?" "Siga em direção ao sol, devagar", ela respondeu. O rosto dele deixou transparecer que a ordem era no mínimo exótica, mas ele conseguiu deixar escapar um débil "sim, senhora". A diária estava paga, não era momento de contrariar a madame, ele concluiu.

É cedo, o sol acaba de sair de seu banho noturno. Prenuncia-se uma bela manhã. Ela sabe o que pretende. Ele não: olhos postos no mar e no sol, mão esquerda no leme, a direita no manete do acelerador, segue os reflexos solares no mar azul ainda escuro. Muitos minutos depois, ela pede para ele parar. "Está bom aqui, senhora?", ele pergunta virando-se para ela, que aquiesce com o chapéu. Silêncio. Os dois, a lancha, o mar de almirante, o sol. O silêncio é quebrado por um pequeno avião, que do alto tenta espiar o que acontece na embarcação. Só o amarelo do chapéu é visível, qual ovo brotando do mar.

Ela desperta das divagações com o barulho da aeronave. Despe o chapéu, a canga azul esmeralda e as sandálias prateadas. Mergulha na água fria, revigorante. Nada um pouco sob a atenção atenta do marinheiro. Ele a ajuda a sair da água, o corpo frio encosta na pele quente do homem, arrepiam-se com o choque térmico, elétrico. Ele traz-lhe uma toalha, ela agradece e dirige-se ao deque frontal da lancha. Estica a toalha e deita de costas. Os raios de sol logo a aquecem. Vira de bruços e solta o sutiã. Percebe o marujo degustando-a, deglutindo-a com os olhos e, talvez, com a mão que não segura o leme. O sol faz seu serviço. Ela senta sobre a toalha, segurando o sutiã com a mão, e pede-lhe para trazer a bolsa de palha. Ela o vê percorrendo com cuidado a lateral da lancha, uma mão segura a bolsa, a outra o corrimão da embarcação. Percebe que o corpo dele está feliz em vê-la, ajudá-la, ficar próximo dela, sentir seu calor, seu cheiro... Ela pega o protetor solar e pede-lhe para passar no seu corpo. Ele a olha, atônito, nem consegue balbuciar um "sim, senhora". Ela deita de costas, fecha os olhos, vira o rosto de lado e desnuda os seios. Silêncio. Silêncio que forma uma barreira entre eles. Ela sente a indecisão dele.

- Vamos com isso, o sol tá queimando!

Sente uns pingos do protetor solar sobre suas canelas. Um começo. A mão calejada dele começa a espalhar o produto em pequenos círculos, subindo um pouco pela perna, descendo até os pés. Ela percebe um leve tremor nessa mão: movimento do barco ou emoção do rapaz? Hora de incentivá-lo:

- Mais rápido, mais pra cima, meus seios estão ardendo!

Pingos caem sobre seu ventre. É agora. Ela vira o rosto para cima e se entrega ao porvir. As mãos, sim, agora as mãos fortes já atuam sobre seu corpo. O sol incide sobre suas pálpebras, o mar balança suave a lancha, as mãos ainda inseguras de que caminho percorrer, o sol vaza suas pálpebras, pingos sobre seus seios, quem sabe agora, uma luz amarela sobre suas pupilas, pingos sobre suas coxas, a luz amarela vermelha nos seus olhos, as mãos calejadas em cima e embaixo, a luz dourada ...

- Tira a minha camiseta!

Surpreende-se com a incisiva voz masculina. Seu marinheiro dá-lhe ordens? Tirar as roupas? Nua já não está? Abre os olhos e estarrece-se a ao ver a camiseta marcada por seus bicos rígidos, intumescidos. Está frio ali. O sol transmuta-se no abajur com cúpula repleta de peixes multicoloridos nadando num sereno azul marinho. Senta-se na cama, penumbra. Ainda não se localiza no espaço-tempo. A ordem masculina é repetida: minha camiseta e minha cueca, estou com frio. Ela põe os pés para fora da cama, temerosa com o que eles vão encontrar. Superfície sólida, fria, estável. Não está no barco. Onde, então? Levanta-se e vê um homem à sua frente. Sorri para ele: um homem sempre é um homem. Retira a camiseta de forma lenta, gradual, sinuosa... percebe que o homem está nu e que a visão de seus seios têm efeito sobre ele. Ela não sabe onde está, mas tem a situação sob controle. Retira a camiseta, roda-a sobre sua cabeça, balançando os cabelos soltos. Sorriem-se. Começa a tirar a cueca também lenta, gradual, meneando os quadris... percebe que a visão das suas coxas e do seu sexo causa um sólido efeito sobre o homem. Ele aproxima-se, mastro erguido, velas abertas, mar de almirante. Ela sereia, deusa, mulher. Ele Netuno, deus, homem.

- Venha meu marujo, venha!

Os dois caem na cama, ela sente a pele dele arrepiada pelo frio enquanto ele percorre seu corpo com beijos. Antes de soçobrar nas ondas do colchão d'água, submergir nos seus braços, afogar-se no sexo, abandonar-se ao prazer, recorda-se do sátiro Jagger cantando: "I can't get no satisfaction, 'cause I try and I try and I try and I try..." Ela tenta, tenta....



José FRID

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