Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa palavra morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, podia-se com alívio jogar a palavra fora. Mais aí cessa a analogia: a não palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva, então, é ler "distraidamente".
Clarice Lispector, citada por Affonso Romano De Sant'Anna in Com Clarice, Editora Unesp, 2013
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