quarta-feira, 17 de setembro de 2014

CROQUI NA AREIA

A manhã sai a passeio na praia polvilhada de sol.
Braços.
Pernas amputadas.
Corpos que se reintegram.
Cabeças flutuantes de borracha.
Ao tornear os corpos das banhistas, as ondas espalham seus cavacos sobre a
serragem da praia.
Tudo é ouro e azul!
A sombra dos guarda-sóis. Os olhos das moças que se injetam romances e
horizontes. Minha alegria de sapatos de borracha que me faz pular na areia.
Por oitenta centavos, os fotógrafos vendem os corpos das mulheres que se
banham.
Há quiosques que exploram a dramaticidade da arrebentação. Criadas chocas.
Sifões irascíveis, com extrato de mar. Rochas com peitos algosos de marinheiro e
corações pintados de esgrimista. Bandos de gaivotas, que fingem o voo
destroçado de um pedaço branco de papel.
E diante de tudo está o mar!
O mar! ritmo de divagações. O mar! Com sua baba e sua epilepsia.
O mar! até gritar
basta!
como no circo.

Mar del Plata, outubro, 1920

Oliverio Girondo in 20 Poemas para ler no bonde, Coleção Fabula. Editora 34.

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