O vento sopra inclemente o promontório
Inclemente?
Ar em movimento tem alma, vontade, razão?
Poesia.
O vento sopra sem clemência
a deusa bruta que emerge do leito marinho.
As pedras negras deixam-se embelezar
pelo elemento que dança à sua volta
certas de ainda estarem ali quando o sol
desaparecer...
Os arbustos retorcidos ora
dançam ao vento como cabelos revoltos ora
ofertam suas folhas, flores, ramas
ao banho de sol e sal
confiantes em suas garras de águia fincadas
no lombo das pedras indiferentes ao vento
Os soberbos cactos verdes não curvam
seus espinhos ao vento.
Altaneiros, saboreiam sal e sol
temperos da vida.
A gaivota de bico amarelo
lança-se no precipício azul marinho celeste
concedendo suas asas alvinegras
para o vento
não mais inclemente, incessante,
agora benfazejo, dócil amante.
Ela deixa-se elevar e paira sobre
o promontório, fauna e flora
o vento acolhe, abraça, alisa
cabeça, pescoço, axilas, peito, ventre, sexo
a pequena ave estremece, as penas fremem:
frio, dor?
Gozo
puro prazer...
José FRID
Búzios, 2014
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