Por que foi que descobri que meu romance utópico tem de ser um relato epistolar? Primeiro: a correspondência em si já é uma forma de utopia. Escrever uma carta é mandar uma mensagem para o futuro; falar a partir do presente com um destinatário que não está ali, que não se sabe como estará (em que estado de espírito, com quem) enquanto lhe escrevemos e, principalmente, depois: ao ler-nos. A correspondência é a forma utópica da conversa porque anula o presente e faz do futuro o único lugar possível do diálogo.
Ricardo Piglia in Respiração artificial, Companhia das Letras, 2010, pág.73
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