Uma parte de mim:
é todo mundo
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
2 comentários:
Nossa, sempre procurei esse poema!!
Mas, como uma parte de mim está sempre ocupada, e a outra, tem sempre algo a fazer, nunca procurei.
Valeu, Zé Frid
Sempre às ordens!
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