segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A essência da obra de arte.


Poeta ou pintor, compositor ou arquiteto, no fundo todos solitários que, voltando-se para a natureza, preferem o eterno ao transitório, a regularidade de leis profundas ao provisoriamente justificado e que, não conseguindo convencer a natureza a tomar parte deles, consideram sua tarefa compreender a natureza a fim de se encaixarem eles próprios em algum lugar de seus grandes contextos. E, com esses indivíduos solitários, a humanidade inteira se aproxima da natureza. Não é o valor último e talvez o mais singular da arte que ela seja o meio em que o homem e paisagem, forma e mundo se encontram e se acham. Na realidade, eles vivem lado a lado, mal tomando conhecimento um do outro; e na pintura, no edifício, na sinfonia - enfim, na arte, eles parecem, como numa verdade profética superior, fundir-se, recorrer um ao outro, e é como eles se completassem formando aquela unidade perfeita que constitui a essência da obra de arte.

Rainer Maria Rilke in Cartas do poeta sobre a vida, seleção de Ulrich Baer, Martins, 2007, pág. 144/145

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