sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Para ir ao centro da consciência....


Nenhum livro, assim como nenhuma palavra de consolo, consegue algo decisivo se quem o encontra não tiver sido preparado por algo totalmente imprevisto para uma recepção e fecundação mais profundas: se sua hora de introspecção em todo o caso não chegou. Para levar essa hora ao centro da consciência, basta isto ou aquilo: às vezes um livro ou objeto de arte, às vezes o olhar de uma criança, a voz de uma pessoa ou de um pássaro e, por vezes, até mesmo o ruído do vento, um estalido no assoalho ou, quando uma pessoa se sentava junto à lareira (o que já fiz algumas vezes), uma olhada nas transformações da chama. Tudo isso e coisas bem menores, aparentemente casuais, podem suscitar e fortalecer um auto-encontro ou um auto-reencontro. Os poetas, de vez em quando, sim, até eles, podem estar entre essas boas ocasiões.


Rainer Maria Rilke in Cartas do poeta sobre a vida, seleção de Ulrich Baer, Martins, 2007, pág. 90/91.

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