quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Machismo puro

(...)
Deixar aquela praia! Henry pensava que quando atravessasse o mar, quando deixasse a Inglaterra - que ele tanto detestava por lhe parecer que o local o tivesse envenenado -, March adormeceria. Ela fecharia os olhos e, finalmente, se renderia a ele.

Aí então ele a teria, e teria finalmente sua própria vida. Ele se irritava ao sentir que não tinha sua própria vida. Jamais a teria enquanto March não se rendesse e não adormecesse nele. E então ele teria finalmente sua própria vida de macho e de jovem, e ela teria toda a vida dela como fêmea e não como mulher. Não existiria mais nada como essa terrível pressão. Ela não seria mais como um um homem, uma mulher independente com responsabilidades de homem. Até a responsabilidade por sua alma feminina ela teria que entregar a ele. Ele sabia que seria assim, e obstinadamente resistia a ela, aguardando o momento da sua rendição.



D.H.Lawrence in Apenas uma mulher e outras histórias, BestBolso, 2015, pág.87 

(tradução de José Veiga e Maria Célia Castro)

Nenhum comentário: