terça-feira, 17 de novembro de 2015

Tornando-se homem...

(...)

Não, ela era outra pessoa. Uma pessoa bem diferente. Vendo-a sempre de culote de pano grosso, largo nos quadris, abotoado nos joelhos, forte como armadura, de perneiras pardas de enrolar e de botas pesadas, nunca lhe ocorrera que ela pudesse ter pernas e pés de mulher. Agora ele via. Ela tinha pernas femininas bem torneadas, e era acessível. Ele corou na raiz dos cabelos, enfiou o nariz na xícara e bebeu o chá com um ruído que fez Banford arrepiar-se. E estranhamente, de repente ele se sentiu homem, não mais um garoto. Sentiu-se homem, com todo o peso grave da responsabilidade de homem. Uma curiosa calma apossou-se dele. Sentiu-se um homem calmo, com um pouco do peso do destino de homem nos ombros.

(1918)

D.H.Lawrence in Apenas uma mulher e outras histórias, BestBolso, 2015, pág.61 

(tradução de José Veiga e Maria Célia Castro)

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