terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O dilema do Dr. Olavo


Ele está tomando banho, a mulher grita da porta que está saindo para ir ao supermercado. Enrola-se na toalha e vai para o quarto. Escuta o automóvel ser ligado e a porta da garagem abrir. Olha pela janela e não vê o carro sair. Troca de roupa e escuta um barulho estranho no térreo. Está sozinho, o que será? Pega a arma e sai do quarto: depara-se com um homem subindo a escada com um revólver colado na cabeça de sua mulher. Corre de volta ao quarto, tranca a porta e dá um tiro pela janela, para chamar a atenção dos vizinhos. Vê um bandido fugindo e atira nele. Acerta-o mas ele continua correndo e foge da sua mira.

Volta à porta trancada, teme escutar um tiro dentro de casa. Silêncio. Abre a porta devagar, vê sua mulher caída no chão e escuta uma correria descendo a escada, saindo de casa. Corre para a varanda e atira repetidas vezes na sombra que foge. A mulher, chorando, o recrimina por deixá-la com o ladrão. Ele diz que é o quarto assalto, já foi ferido duas vezes, reagiu por instinto, mas que tudo deu certo.

Sirenes e luzes da polícia cercam a casa. Os tiros alertaram os vizinhos e estes a polícia. O meliante que ameaçou a mulher foi preso duas quadras acima. O outro, mesmo ferido, marcas de sangue pela rua, conseguiu fugir.

Ele e a mulher estão prestando depoimento ao delegado. O carcereiro interrompe, diz que o preso quer falar com o dono da casa. O delegado autoriza a ida dele às celas, enquanto a mulher tenta fazer o retrato falado do fugitivo.

- Desculpe, doutor, não foi nada planejado, não sabia que você é um ótimo advogado. Trabalho com meu tio, o nosso negócio é carros, não faço casas, foi só para ajudar um chapa meu, o que fugiu e me deixou na fria. Quero que me ajude...

- Eu? Você quase matou nós dois....

- Nunca ia atirar não. Sou da paz, só puxo carros....

- Ia roubar os meus?

- Era a ideia, mas meu colega quis fazer a casa também. Foi um erro. Quero que você defenda eu. Meu tio dará um carro limpinho, no valor de trinta contos...

- E eu lá quero carro de ladrão?

- Tá limpo, não é roubado não. Ta no nome da minha tia.

O assaltado conta, a sós, a conversa ao delegado, que manda ele aceitar a oferta.

- Dou cobertura e a gente divide a grana. Que você ganha se ele for preso?

- Mas sou a vítima, quase mataram minha mulher.... além disso, sou advogado, não posso fazer acordo com bandido!

- O que passou, passou, doutor. Além disso, o senhor sabe que todos têm direito a um advogado, ampla defesa, etc.

- Mas...

- Faço o tio vender o carro e a gente divide, quinze para cada um. Considere como se fosse uma indenização por dano moral. Afinal, ninguém se feriu, nada foi roubado, você não precisa fazer nada, eu não registro, pega sua mulher e vai viajar para um lugar bem bonito, ela esquecerá de tudo.

Dr. Olavo contou-me essa estória com os pés refrescando na piscina de um hotel de luxo numa paradisíaca praia nordestina, intercalando palavras com camarões graúdos e goles de "bala 15"..... 


José FRID

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