segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A Sex... moderna!


- Sabe o que quero de você?
- Não.
- Sexo. Dá conta?
- Acho que sim...
- Tem certeza?  Semana passada foi uma decepção...
- Conheci você agora.
- O outro, um fracasso, Falou, falou, prometeu, mas na hora mesmo...
- Você é sempre assim, direta?
- Sou. Esperava algo diferente? Estamos num single's bar, cara, local onde homens casados, divorciados, vêm procurar mulheres para transar. E elas estão atrás de homens, não importa o estado civil do cidadão, o importante é ser homem....
- O que você tem contra os gays?
- Nada, só que o bar deles ou delas é outro. Você é gay?
- Não. Gosto de mulher.
- Bom saber. Pensei que tinha avaliado mal...
- Por que você me escolheu?
- Simpatizei com você.
- Do que gostou mais?
- Do conjunto, porque se examinarmos as partes...
- Pra que fui perguntar...
- Quando você entrou, a primeira impressão foi boa. Gostei do modo como olhou o bar, caminhou seguro até o balcão, sentou, chamou o garçom...
- Sou frequentador da casa.
- Foi por isso que levantei da mesa e sentei no balcão.
- Essa frase está meio esquisita, você não estava sentada sobre a mesa, não? Nem está sobre o balcão.
- Professor de português?
- Uma caçadora?
- Sei o que quero, a casa está cheia de mulher, a concorrência está grande...
- Realmente, hoje o bar está cheio, vi logo que entrei. Eu sabia que estava sendo observado. Teatralizei minha entrada e parece que deu certo...
- Vamos ver. Gostei da sua camisa, da calça, tecido bom, o sapato não, compromete, relógio bonito. Agora, seu nariz, seu nariz...
- O que tem meu nariz? É só um pouco grande....
- Enorme. E torto também. Pior são os olhos, quando tirou os óculos escuros, esses olhos cansados, essas bolsas misturadas com olheiras, quase desisti...
- E por que não?
- Gostei do bigode, da voz, da boca, fiquei com vontade de beijá-la...
- Pode beijar.
- Daqui a pouco. Mas suas mãos foram o fator decisivo. Grandes, fortes, peludas, dedos longos. Do jeito que gosto.
- Mais alguma coisa?
- Negativas: orelhas grandes, uma barriga aparecendo... positivas: peito cabeludo, braço peludo, gosto de homem com muito pelo, gosto de passar a mão nos pelos, encostar a cabeça num peito cabeludo depois do sexo.
- Grande observadora. Viu tudo isso assim rápido?
- Mulher. É da nossa natureza observar tudo num relance.
- Mora aqui perto?
- Não, só tou de passagem.
- A trabalho?
- Não, sou aposentada. Venho uma vez por semana para São Paulo fazer compras, exames, tratamentos e pegar homem, pode-se dizer assim...
- Tempos modernos
- Na minha idade, tempo é tudo. Não dá para ficar enrolando.
- Tão nova...
- Não precisa elogiar, já decidi dormir com você. Quantos anos você me dá?
- Uns quarenta, quarenta e poucos.
- Sou sex.
- Com certeza. Gostei do seu rosto delicado, do cabelo curto, meio Chanel, mas farto, cheio, gosto de passar os dedos entre os fios. Dos brincos de pérola, dos seus olhos amendoados, cor de mel. De roupa feminina não entendo muito, mas gostei das suas, parecem finas, discretas, não são de jovens, que para você ficaria ridículo, nem de perua, o conjunto todo agradou, o decote, seios generosos, muitas promessas, imagino o resto, carnuda, curvilínea, foi por tudo isso que a cumprimentei entre tantas...
-  Estou lisonjeada, mas você não entendeu. Sou sex, sexagenária, meia dois.
- Não parece. Tá brincando, não?
- Sério. Eu me cuido. Sou casada, tenho três filhos, todos criados, quatro netos por criar, uma casa pra cuidar...
- Casada? Ele sabe que você está aqui?
-  Não. Tá em casa.
-  Casal moderno.                                      
-  Não é bem assim. Deixei ele acabado. Ele me traiu muito com as operárias da fábrica, todas de olho no dinheiro dele. Umas sirigaitas até inventaram filhos com ele. Cansei, acabei com a festa, tirei todo o dinheiro dele, consegui passar a fábrica pro meu nome. Sem dinheiro, acabou o charme dele com as gurias. Agora fica mais no sítio que herdou do pai do que em casa. É quase o caseiro do sítio, que é dele e dos irmãos.
- E você transa com ele?
- Eu não, por isso estou aqui. Ele que se vire sozinho ou com a criação do sítio, vaca, galinha, égua, ovelha, ou com a velha cozinheira....
- Maldade....
- Mereceu. Fiquei mal na cidade com suas traições, muita fofoca...
- Eu também sou do interior....
- Sem detalhes, por favor, não vamos casar, só dormir juntos, passar a noite.
- Sempre direta. Mas o que você quer mesmo de mim? Vou ser também direto e franco. Se for sexo, um bom sexo bem feito, é comigo mesmo...
- Isso basta para mim. E dormir de conchinha.
- Pode dormir com a cabeça no meu peito peludo. Mas se você espera algo mirabolante, tô fora, melhor arranjar um mais novo...
- Não gosto de garotos, me cansam.
- Quer ir agora?
- Podemos conversar mais um pouco, escutar música, a noite é uma criança.
- OK. Também não tenho pressa. Mais um chope?
- Sim.
- Garçom, dois chopes e batatas fritas.
- Assim vou me apaixonar....


José FRID

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