terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O amor talvez seja apenas um poema de Camões rasurado num livro da biblioteca


Você está sozinho numa sexta-feira fria de julho
A brisa lá fora arrasta folhas no asfalto e relâmpagos iluminam os móveis da casa
Um garrafão de cinco litros de vinho dom bosco com seis carreiras gordas de pó brilhando em cima da mesa
Você é o prático que guia esse navio que cruza o atlântico
O único culpado do naufrágio
Um Di Caprio sem Kate Winslet para abraçar e realizar sonhos na terra firme
Bolinhas verdes/online mandando mensagens inúteis que não confortam o tornado que devasta seu peito de urso na avalanche
Então você levanta da rede onde sempre descansa e bate dolorosas punhetas pensando naquela poeta portuguesa com pinta de atriz dos filmes do Manoel de Oliveira
Pega uma caneta vermelha e um maço de papéis almaço
Desenha um coração
Um coração grande que caiba toda sua esperança e rancor
Desenha uma linda flecha apontando para uma cidade imaginária
Você é um idiota que age como se todos os problemas do mundo pudessem ser consertados com um pincel atômico
Lisboa é muito longe
O amor talvez seja apenas um poema de Camões rasurado num livro da biblioteca.



Diego Moraes in Mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea



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