sexta-feira, 1 de abril de 2016

Amor....


A mulher me aborda: um pátio interno dos milagres. Propõe amor fácil e barato. Diz que é marquesa e abre a boca num riso de dois caninos.

Olho-a com tamanho horror que me amaldiçoa e aponta, impaciente, a garota ali na esquina. A palavra amor, uma laranja podre na boca da velha.

A mocinha tem os olhos baixos que, ao sinal da outra, ergue num clarão de lascívia feroz. De sandália, o vestidinho amarelo desbotado. Um ramo de flores murchas na mão esquerda.

Não me lembro se rosas ou camélias, que ela esqueceu sobre a cama.


Dalton Trevisan in "Capri", do O beijo na Nuca, Editora Record, págs.85/86

Nenhum comentário: