domingo, 3 de abril de 2016

Arroje-se como o passarinho


Você está cheio de problemas,
precisa tomar sérias decisões,
fazer isso ou aquilo, mudar, ousar,
mas sente-se desamparado, despreparado,
não sabe como ou o quê fazer.

Pense no dilema do passarinho que olha para mim.
Seus pais fizeram um ninho numa folha da
palmeira imperial á frente da minha varanda, 
local seguro, longe de predadores
mas, mas, mas, a quinze metros do chão.

Durante semanas a passarinha chocou,
Chuvas, vento, sol, a palma balançava mais que cavalo xucro,
ela aferrada ao ninho como peão no touro.

Nasceu, piou de fome, fome de quatrocentos anos.
O casal passarinheiro revezando-se
em encher aquele buraco sem fundo.
Boca sempre aberta, pios, choros de cortar o coração,
ele tão pequeno, à minha frente morrendo de fome,
mas a quatro metros no abismo:
sem condição de minha ação.

O baby cresceu, a cara da mãe – será do pai?
Olhava ao redor, o que via?
Eu, meu prédio, as folhas da palmeira – imperial
pássaros vizinhos, o céu....

Crescendo, crescendo, quase do tamanho da mãe.
Vejo, surpreso, abrir as asas, grandes asas
para o pequeno ser, ali, que carreguei no colo,
ele tão surpreso como eu:
pra que servem?

Dia D: a passarinha pousa em outro galho,
dez metros à frente, quinze acima do chão.
A mãe canta, chama, incentiva,
ele responde, conversam?

Ele arrisca-se à beira do berço natal,
abre as asas Integralmente,
estica-se deliciando-se com seu tamanho,
sente-se um majestoso condor rei dos ares.


Olha pela primeira vez para baixo: o que será tudo aquilo?
Tudo a 15 metros abaixo, ou melhor,
a 150 corpos de passarinho...

A mãe canta, chama, incentiva,
ele nunca voou, nunca treinou, ninguém lhe ensinou...
Sua única saída dali: lançar-se ao espaço...
Pensa que falta faz uns livros, um vídeo, algo que
mostrasse a ele como é voar e como se faz....

Ele está à beira do ninho.
Abre e fecha as asas. Isso ele sabe fazer.
E voar? Como será? Ele sabe o que é voar?
Com elas abertas, fechadas?
Pular, saltar, soltar-se?
Indeciso à beira do ninho, do abismo...

Primeira vez, única vez, evento sem repetição possível
- ou voa ou voa!
Terá que aprender a voar durante o próprio voo...

A mãe canta, chama, incentiva.

Ele arroja-se:
lança-se no abismo, a queda, a queda, 15, 13, 10, 7 metros,
as asas se abrem em todo o seu esplendor,
enchem-se de ar, sustentam o pequenino,
transformam a queda em voo...

Excita-se com o vento entre as penas, sob o ventre, deixa-se levar...
A mãe canta, chama, incentiva,
Ele manobra, consegue evitar a queda, as árvores, os telhados,
agora ascende, faz a curva e pousa ao lado da mãe.
Realizados. Ela, ele, o voo,
vida que segue, natureza dos seres.

Nota 7.8 diria um juiz rigoroso,
mas para mim é dez, nota dez!

Não espere, você também pode, voe....
Arroje-se como o passarinho!


José FRID

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