quinta-feira, 7 de abril de 2016

Só depois de arrumar a casa.....

Ah! quando necessitamos das mulheres da vida é que andamos doentes de amor! E elas compreendem a nossa doença. Silenciosas ou vem com ternura. Para mim têm sido sempre boas - honestas e boas enfermeiras. É preciso um grande esforço para não guardá-las.

Uma noite triste desta minha vida voltava para meu pequeno apartamento da Avenida Mem de Sá. Numa esquina encontrei uma mulherzinha humilde. Era uma criança, uma pobre criança. A maquilagem exagerada, o vestido de cetim brilhante não transformavam a pureza daqueles olhos vazios. Levei-a comigo. Assustou-se com meus quadros e a desordem de tudo naqueles cômodos por onde havia passado a tempestade de um divórcio. Sentou-se na mais pequena cadeira da sala. Olhou-me dos pés à cabeça com aguda curiosidade. Fui despir-me na sala de banho, voltei de pijama, com esse ar estúpido que só nós homens sabemos ter quando sofremos de amor. Deite-me no divã e maquinalmente perguntei: por que não foi se despir?....

Olhou-me com uma piedosa ironia e respondeu:

- Despir-me? Só depois  de arrumar esta casa....

Di Cavalcanti in "Reminiscências Líricas de um Perfeito Carioca", 1964, Editora Civilização Brasileira, fls.44

Nenhum comentário: