Ai como sofre o corpo que se esfrega
no corpo que se entrega e não se entrega
no corpo que se entrega e não se entrega
é como a convulsão da preamar
a querer atirar o mar no ar
a querer atirar o mar no ar
a onda rija bate como espada
nos musgos da mulher ensolarada
nos musgos da mulher ensolarada
guelras arfantes pernas semifusas
grifam sombras morenas de medusas
grifam sombras morenas de medusas
e a verde rocha em V vê o duelo
do peixe azul fisgado no amarelo
do peixe azul fisgado no amarelo
compondo um bicho humano sobre a praia
que se desfaz em rendas e cambraia
que se desfaz em rendas e cambraia
moluscos musculares do desejo
decápode do homem – caranguejo
decápode do homem – caranguejo
anêmonas e polvos complacentes
a resvalar abismos inocentes
a resvalar abismos inocentes
como se amar no mar fosse encontrar
nossa animalidade elementar
nossa animalidade elementar
ou fosse o ser na praia (duplicado
de amor) bicho de amor do mar gerado
de amor) bicho de amor do mar gerado
cujas garras fatais persuasivas
deslizam pelas angras sensitivas
deslizam pelas angras sensitivas
pelos quadris que dançam pelos frisos
conjugais – ziguezague de mil guizos –
conjugais – ziguezague de mil guizos –
garras que buscam a melhor textura
no ventre no pescoço na cintura
no ventre no pescoço na cintura
já quase a devorar a lua cheia
no litoral do céu feito de areia
no litoral do céu feito de areia
e o sol diz nomes feios para a lua
pedindo que ela entenda e fique nua
pedindo que ela entenda e fique nua
para que possa a coisa hermafrodita
mudar a vida breve e infinita
mudar a vida breve e infinita
e quando enfim de amor o bicho – arraia
na confusão voraz freme e se espraia
na confusão voraz freme e se espraia
é como a convulsão da preamar
que conseguiu jogar o mar no ar
que conseguiu jogar o mar no ar
Paulo Mendes Campos
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