domingo, 14 de agosto de 2016

BALADA DE AMOR NA PRAIA

Ai como sofre o corpo que se esfrega
no corpo que se entrega e não se entrega
é como a convulsão da preamar
a querer atirar o mar no ar
a onda rija bate como espada
nos musgos da mulher ensolarada
guelras arfantes pernas semifusas
grifam sombras morenas de medusas
e a verde rocha em V vê o duelo
do peixe azul fisgado no amarelo
compondo um bicho humano sobre a praia
que se desfaz em rendas e cambraia
moluscos musculares do desejo
decápode do homem – caranguejo
anêmonas e polvos complacentes
a resvalar abismos inocentes
como se amar no mar fosse encontrar
nossa animalidade elementar
ou fosse o ser na praia (duplicado
de amor) bicho de amor do mar gerado
cujas garras fatais persuasivas
deslizam pelas angras sensitivas
pelos quadris que dançam pelos frisos
conjugais – ziguezague de mil guizos –
garras que buscam a melhor textura
no ventre no pescoço na cintura
já quase a devorar a lua cheia
no litoral do céu feito de areia
e o sol diz nomes feios para a lua
pedindo que ela entenda e fique nua
para que possa a coisa hermafrodita
mudar a vida breve e infinita
e quando enfim de amor o bicho – arraia
na confusão voraz freme e se espraia
é como a convulsão da preamar
que conseguiu jogar o mar no ar

Paulo Mendes Campos

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