sábado, 18 de fevereiro de 2017

Barulho - Ferreira Gullar


Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
               o metal
                a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
               de mulher.

O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
                  quando rumoreja
                  ao sopro da leitura.


Ferreira Gullar in Barulhos, José Olympio Editora, 7ª edição, 2013, pág.53

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