Há quem pretenda
que seu poema seja
mármore
ou cristal – o meu
o queria pêssego
pera
banana apodrecendo num prato
e se possível
numa varanda
onde pessoas trabalhem e falem
e donde se ouça
o barulho da rua.
Ah quem me dera
o poema podre!
a polpa fendida
exposto
o avesso da voz
minando
no prato
o licor a química
das sílabas
metáforas
um poema
como um desastre em curso
Ferreira Gullar in Barulhos, José Olympio Editora, 7ª edição, 2013, pág.40
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