quarta-feira, 1 de março de 2017

Penso, logo...

Não há luz nem som nem cheiro.
Não reconheço o lugar onde estou...
Onde? Quando? O quê?
Penso... Mas onde? Quando?

Vem-me uma sensação de morte. Morto?
Penso, logo existo, não devo estar morto.
Morre o corpo, fica a alma, o espírito, dizem...
Essa escuridão é da morte?
Morto pensa?

Não, estou vivo. Com certeza, vivo, vivíssimo. Será?
Não sinto nada. Cadê meu corpo, minhas mãos, minhas pernas? A respiração?
Cadê? Cadê? Cadê? Cadê, meu deus?
Vivo, com certeza, morto não se desespera....

Onde? Quando? O quê?
Flutuo... Em água não, não sinto nada,
No ar, talvez, o ar é um nada...
Sou uma águia, uma gaivota, um urubu....
Planando sobre o abismo numa noite sem estrelas...

Vem-me uma sensação de morte.
Agora mais forte e definitiva: morreremos todos.
Mais que sensação, uma ordem: é preciso morrer. Já.
Como? Como morrer? Logo eu?

Estou vivo, é claro, só quem é vivo pode morrer...
Mas como morrer? E quem está mandando?
Já não sinto meu corpo, minhas mãos, minhas pernas, a respiração...
Não vejo nada, não escuto nada, não sinto nada....
Estarei morto?        
Então morto pensa...

Flutuo, penso, não sinto nada, penso, quero morrer....
Isso só pode ser um sonho! Um pesadelo!
Mas sonho que sonho?
E essa escuridão? Esse silêncio? Essa falta de tudo?
Esse pensamento fixo na morte...

Pensa-se em sonhos? Ou sonha-se que se pensa?
Isso é pensar, isso é sonhar, isso é viver....
Será que morto sonha? Morto vive?

Penso, logo...
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 José FRID

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