segunda-feira, 10 de abril de 2017

Histórias de pescador

Desabusado estilo manda ao leigo
Que tenha bom traquejo, com bons modos
Se ponha em tal estado, seja todo
Avesso a ter em si qualquer receio
De distorcer o vero, de deixar 
Perder-se por prudência o que mais há
De vir fazer do ouvinte sábio e tolo.

Inteiro dar a ver o que é só meio
Ou menos, dar a mais sem ter abono
E vir fazer que é mais que mero antojo
Aquilo que em si mesmo faz sua lei. O
Que nos diz, então, o que , no ar, 
Desenha, pinta e canta, sem parar,
Não escapa pela boca só, é arrofo:

Em tudo dá a ver, em seu permeio,
Mistura o que é ao que nunca foi - logro
Então, mas, muito ornado, traz no bojo
O grande com o pequeno de recheio,
Porém se mostra e diz, é o que não há
- Que é dele o ofício, sempre, de enganar,
Fazer que todo ouvinte vire anhoto -.

E que tudo que é exagero vem de par
Com a pouca, certa e vera história, mas 
Sem ele, é vida, isso, esse assumo?


Alckmar Luiz dos Santos in Rios Imprestáveis, Lemos Editorial, 2001, págs. 11/12

Vencedor do 1º Premio Redescoberta da Literatura Brasileira - 2000

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