sábado, 15 de abril de 2017

O artista e sua arte


Praça da Sé, oito e meia da manhã. O sinal fecha e um elegante automóvel branco para antes da faixa de pedestre. Nosso artista desce da calçada portando um balde cinza escuro. Ele põe-se diante do veículo e abre um largo sorriso no rosto. Está vestido com uma bermuda azul, camiseta branca, havaianas, cabelos máquina dois. Um sorriso largo, fixo, horizontal, promissor.

Os pedestres, iluminados pelo sorriso, aguardam o espetáculo do saltimbanco. Será que ele subirá no balde para equilibrar bolas de tênis? Equilibrará o balde na cabeça, no nariz? Haverá coelhos naquele balde? Usará como chapéu?

Mantendo o sorriso, o artista repousa o balde no chão, a plateia pensa que é hora do show, mas ele tira o boné cinza claro e faz uma ampla reverência para o motorista, gesto amplo, lento, estudado, medieval. A expectativa da plateia e dos motoristas aumenta. O homem repõe o boné na cabeça e levanta a camiseta para mostrar que não tem armas. Os motoristas ficam aliviados, o semáforo demora para abrir. Ele pega o balde e... caminha entre os automóveis pedindo dinheiro para encher o utensilio. A plateia desfaz-se decepcionada, considerando o homem enganador e muito otimista.

O semáforo acusa o verde, o artista volta para a calçada com parcas moedas. Um incompreendido. Sua arte, seu show, são o sorriso e a mesura....teatrais!

José FRID

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