Chove desde ontem na cidade
o parque está deserto
crianças e idosos
corredores e jogadores
namorados e gazeteiros
ambulantes e policiais
escutam desolados a chuva bater nas vidraças
No céu não há pássaros, borboletas, mariposas
apenas nuvens plúmbeas
no chão não há passos, cães, bicicletas
apenas poças onde pequenos círculos desfazem-se
As árvores choram folhas
pequeninas, pequeninas, pequenas
pequenas, médias, grandes
abatidas por pingos calibre 45
O leão albino ruge silenciosamente
para o hoje inútil banco de madeira verde
o brônzeo ilustre cidadão, limpo das fezes columbinas
vigia a fofa grama crescer alegremente entre doces pingos
O córrego obeso de chuva lambe as vigas da ponte
que se não fosse de concreto
retorcer-se-ia toda no gozo
Os peixes estão em dia de festa, tudo vem na correnteza
flores, fezes, folhas, frutas, galhos, papéis, plásticos, terra
lixo
Para a pequena garça esbelta e branca, branquíssima
imóvel com seu longo e fino bico, atenta ao alvoroço písceo
é apenas mais um dia
e quem não pesca não come...
José FRID
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