sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Vagabunda....

[...]

E hoje ainda é dia de semana. Ele olha para a moça. A boca lhe parece indecente, oferecendo-se. Para ele. Qualquer um. Machos. Os lábios carnudos. Úmidos e brilhantes. A sua própria boca se entreabre. Há na moça uma vulgaridade. Mulher barata. Não conseguia entender por que precisava se vestir daquele jeito.

Não.

Mulheres assim. Sem satisfação no desejo de um homem só. Que sejam muitos. Todos. Que percam a razão e os modos.Fêmeas. Querendo como bicho, rosnando e gritando. Os machos de língua para fora, babando. Loucos e furiosos, perseguindo até agarrar. Na força. Na marra. Às mordidas. Com arranhões e maus-tratos. O pastor fica com raiva. Tanto trabalho. Não nos deixes cair em tentação. Mas, para a queda, bastava bem pouco. Uma única vagabunda dessas e um pai de família pega o atalho errado na vida. Para longe. De Deus e da salvação. Para sempre. Para nunca mais. Bastava uma dessas. Tentação da besta. Vagabunda. A raiva aumenta. Vagabunda.

A raiva.

Eda Nagayama in Desgarrados, Cosac Naify, 2015, págs.. 113/114


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