sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Velórios - Rodrigo M. F. de Andrade


Único livro de ficção de Rodrigo M. F. de Andrade. São apenas oito contos, incensados por Manoel Bandeira, Mário de Andrade, Aníbal Machado e Pedro Nava, que lamentaram que o autor não tenha prosseguido na literatura de ficção. Para mim, por essa amostra, ele fez bem em dedicar-se à defesa do Patrimônio Histórico Nacional.... mas quem sabe que com a prática poderia alcançar patamares mais elevados.

Destaco apenas dois contos, por sinal aqueles que são considerados autobiográficos por Pedro Nava: "Quando minha avó morreu" e "Iniciação". Eles abordam experiências de adolescentes descobrindo o mundo, sexo, morte, perda,vaidade, etc. que são comuns a todos que passam por essa faixa etária. Um terceiro conto merece a leitura - "Nortista" - que carece um pouco de foco.


D. Guiomar - Falho. Muita descrição sobre as atividades extraconjugais de um personagem, sem interesse para a ação. Final curto e seco. Em resumo, dois irmãos e um cadáver. 

Martiniano e a campesina - Muita volta para nada. Desfecho fraco: a carta guardada como trunfo pelo autor nada acrescenta ao conto.

Quando minha avó morreu - Conto curto, leve e preciso, autobiográfico segundo Pedro Nava. Muito bom, o autor acertou a mão. Narra a reação de um garoto à morte da avó e a demonstração do seu luto.

Seu Magalhães suicidou-se - Como é "um dos dez melhores contos da literatura brasileira", segundo Aníbal Machado, pulei a sequência e deixei para ler no final. Entretanto, o conto, na minha opinião, não é tudo isso que o Aníbal Machado diz. Trata-se de um mero caso de adultério familiar, que o autor não conduz com maestria, revelando a trama principal antes da hora, esvaziando o conto.

O enterro de Seu Ernesto - Gira em torno do enterro do Ernesto, com os dilemas da viúva, D. Amália, sobre beijar ou não o defunto e seus embates com as cunhadas.

Iniciação - Conto autobiográfico segundo Pedro Nava. Começa muito bem, aguça a curiosidade, a descoberta do sexo por um grupo de garotos, descoberta teórica, é claro. O leitor fica aguardando e .... nada! Nem com o padre sai transa!

O príncipe dos prozadores - O autor não foi feliz. Escreve, escreve mas não desenvolve o conto, não chega a lugar nenhum. Sorte do leitor que ele é curtíssimo.

O nortista - Mário de Andrade via nele "uma perfeição de psicologia". É um conto longo, que narra a saga de um jovem médico contratado pelo "nortista" - deputado federal nascido no Pará e que fez fortuna em Santa Catarina - para tratá-lo de tuberculose num sítio em Minas Gerais. O conto mostra o relacionamento entre os dois personagens, a relação do médico com os moradores das vizinhanças, o embate entre o paciente e o médico, até o desenlace final. Conto bom, mas um pouco dispersivo, seria bom ter um foco.


Rodrigo M. F. de Andrade in Velórios, Cosac & Naify, 2004


José FRID



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