quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O poeta...

... e ele não saudava jamais ninguém, apenas fazia profundas reverências às velhas do mercado, às vendedoras; esta era uma característica sua, na sua busca do homem novo, e quando estava úmido ou chovia, ele fazia com que lhe pusessem sempre numa panela caldo de carne e um pãozinho, e ele próprio os levava àquelas velhas tiritantes de frio e, enquanto os carregava pela praça, bem, era como se não estivesse levando apenas sopa, naquela panelinha - eu o via, ele levava àquelas velhas, a cada uma delas, ainda por cima, seu próprio coração cortado em fatias e preparado com cebola e páprica, levado do mesmo modo que o padre conduz o ostensório ou o Santíssimo Sacramento para a extrema-unção; e assim aquele poeta levava, uma após outra, aquelas panelinhas, e chorava por si mesmo, por ser tão bom e porque, mesmo se as tivesse comprado de nós a crédito, de qualquer modo havia conseguido aquela sopa para aquelas velhinhas, não para que elas se esquentassem, mas para que soubessem que ele, Tonda Jodl, pensa nelas, vive por elas, considera-as como a si mesmo, como uma parte de sua ideia do mundo, e considera aquele seu comportamento como verdadeiro amor ao próximo, agora mesmo, não depois da morte...

Bohumil Hrabal in Eu servi o rei da Inglaterra, Editora Best Seller, págs.39/40

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