quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O trabalho enobrece o homem....



E aqui, no hotel Tichota, compreendi também que aqueles que inventaram que o trabalho enobrece o homem eram os mesmos que vinham aqui toda noite para comer e beber com as belas senhoritas nos joelhos - aqueles ricos que conseguiam ser felizes como rapazinhos - e eu pensei que os ricos tinham uma maldição ou algo do gênero; os casebres e os quartinhos escuros e a sopa ácida e as batatas dão uma sensação de felicidade e bem-estar às pessoas, que a riqueza é como uma maldição ... mas, ao que parece, até aquelas troças sobre a felicidade de viver em casebres eram invenções daqueles nossos fregueses para quem era indiferente o quanto conseguiam esbanjar em apenas uma noite, que jogavam dinheiro aos quatro ventos, satisfazendo-se com isso... Jamais vi homens tão felizes quanto aqueles ricos industriais e aqueles empresários - como disse, sabiam soltar-se e divertir-se com a vida como meninos travessos, provocavam até despeito e pregavam peças, tanto era o tempo que tinham à sua disposição para tudo - e toda vez, no meio daquela alegria, de repente um perguntava a outro se não precisava de um vagão de porcos húngaros ou, quem sabe, de dois, ou de um trem inteiro. Aquele outro, depois, por sua vez, olhando o nosso empregado que cortava lenha - de fato, é preciso dizer, e aqueles ricos tinham sempre a sensação de que aquele doméstico era a pessoa mais feliz sobre a terra e, por isso, olhavam sonhadores aquele trabalho que elogiavam sem jamais fazê-lo e que, se tivessem de executá-lo, se sentiriam infelizes e isso seria o fim da felicidade deles[...]



Bohumil Hrabal in Eu servi o rei da Inglaterra, Editora Best Seller, pág..70

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