terça-feira, 26 de dezembro de 2017

VULCÕES

Vulcão em erupção na Guatemala. Anoitecer, a montanha bem definida contra o céu avermelhado, em brasas, a coluna de fumaça subindo em volteios qual cigarro extinguindo-se num cinzeiro. Fica feliz de estar à distância segura, no hotel, deitado na espreguiçadeira ao lado da piscina, copo gelado na mão; triste, ao mesmo tempo, por não estar mais perto, na boca da cratera, não poder constatar na pele o calor das lavas, a poeira nos pulmões e olhos, o enxofre nas narinas, o troar nos ouvidos, os tremores nos pés. Na distância, é testemunha ocular da história. Mas ver é tudo? Melhor estar lá, presenciar, correndo todos os riscos? Fecha os olhos à busca de respostas. Respira suavemente. Buscar respostas para quê? O que elas mudarão na sua vida? Poderá agir? Os monótonos barulhos dos equipamentos eletromecânicos lhe dão sono. Relaxa, deixa o sono, a inconsciência chegar, dominá-lo. Dorme, mas o ritmo é mantido, o trabalho continua sendo feito, ele só precisa estar de corpo presente, a fístula está lá. Um tempo imensurável para ele transcorre. Desperta, fixa os olhos na parede alva à sua frente. Outro vulcão, agora chileno, inerte, pacífico, aparentemente calmo como ele, sem fumo, coberto de neve, branco sobre azul do céu como roupa de marinheiro. Outra piscina, ele imerso na água cálida, deliciando-se com os volteios dos esquiadores, descida desabalada pela montanha como se fugissem de lavas imaginárias. Calor ou frio? O que é melhor? Respostas, outra vez, respostas. Para quê decidir? Poderia agir? Presta atenção nos metódicos ruídos dos aparelhos. Sequência inabalável, os mesmos movimentos, os mesmos ciclos, os mesmos resultados, vida garantida. As máquinas não procuram respostas, fazem o que tem que ser feito, agem. Como os esquiadores, zumbindo montanha abaixo, só pelo prazer, sem querer chegar a lugar nenhum. Fecha os olhos e deixa-se deliciar com a esquiadora de rosa shoking, graciosa, esbelta, audaciosa, loira e voluptuosa como uma Bond girl, incansável em subir e descer a montanha. Acena-lhe quando ela passa no teleférico, convida-a a despir-se e compartilhar a piscina aquecida pelas entranhas da terra...

- Pronto, já acabamos por hoje, o senhor pode ir.

O operador remove delicadamente os tubos e conexões. Ele está liberto, pode ir e vir até a próxima segunda-feira, sete horas. Como visitar seus vulcões com seu rim pesando meia tonelada, fixo naquela sala asséptica, que visita segundas, quartas e sextas? Só chega a  Poços de Caldas, vulcão extinto como seus rins.... 

José FRID

(início de um conto...)

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