- Senhor, trouxe o menino.
[...]
- Companheiro, este rapaz é ainda muito fraco para o trabalho. E seu filho?
[...]
- Senhor - balbuciou a rude voz do mineiro, na qual vibrava um tom de dolorosa súplica - , somos seis em casa e só um trabalha. Pablo já fez oito anos e deve ganhar o pão que come, e, como filho de mineiro, seu ofício será o de seus antepassados, que nunca tiveram outra escola além da mina.
[...]
A criatura, meio morta de terror,, lançava gritos penetrantes de pavorosa angústia e só com violência se conseguiu arrancá-lo das pernas do pai, a que se aferrava com todas as forças. Seus rogos e clamores enchiam a galeria, sem que a terna vítima, mais infeliz do que o bíblico Isaac, ouvisse uma voz amiga que detivesse o braço paterno armado contra sua própria carne, pelo crime e a iniquidade dos homens.
[...]
Antes de abandonar a galeria, deteve-se um instante e escutou uma pequena voz, tênue como um sopro, que clamava de longe, debilitada pela distância: "Mãe! Mãe!".
Então começou a correr como um louco, acossado pelo gemido dolorido, e só se deteve quando se encontrou diante do veio, à vista do qual sua dor se converteu logo em fúria e, empunhando o cabo da picareta, atacou-o furiosamente. Os golpes caíam sobre o duro bloco como espessa saraivada sobre sonoros cristais, e o dente de aço mergulhava naquela massa negra e brilhante, arrancando pedaços enormes que se amontoavam entre as pernas do operário, enquanto uma poeira espessa cobria, como um véu, a vacilante luz da lâmpada.
As cortantes arestas do carvão voavam com força, ferindo-lhe o rosto, o pescoço e o peito nu. Fios de sangue se misturavam ao copioso suor que inundava seu corpo penetrava como cunha na brecha aberta, dilatando-a com a ânsia do presidiário que perfura o muro que o oprime; mas sem a esperança que alimenta e fortalece o prisioneiro: encontrar, no fim da jornada, uma vida nova, cheia de sol, de ar e de liberdade.
Baldomero Lillo in A comporta número 12, Contos da América Latina, págs.193/198
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