quinta-feira, 15 de março de 2018

Quinta-feira....


O encontro estava marcado para as duas e meia, horário perfeitamente insuspeito, aliado ao fato de se encaixar numa quinta-feira, o dia mais anódino da semana. Ninguém resolve a vida ou a morte numa quinta-feira. As segundas são muito visadas porque trazem a marca da renovação. As terças representam o repouso depois do gesto. É um dia de angústia porque nele o sonho se vê afogado na realidade mais mesquinha. Além disso, são dias em preto e branco. Detesto as terças-feiras. As quartas reacendem a esperança do meio caminho. Atingida a metade da semana, despertam-se os ânimos para a metade restante. É uma espécie de ressurreição, uma possibilidade de passar a borracha nos erros cometidos na segunda e lamentados na terça. Já o vislumbre da sexta anula todas as potencialidade da quinta. Quando nos deitamos nas noites de quarta-feira, somos acalentados pela proximidade da sexta. A quinta fica de fora. Por isso é um dia anódino dentro da semana viva, que é a que vai de segunda a sexta-feira. A alegria do sábado é apenas uma compensação para o vazio domingueiro. O domingo é a própria inexistência. São essas reflexões que fazem amantes dotados de espírito criarem um paraíso particular às quintas-feiras.  Conheci um homem que entrava em órbita sexual quando ouvia a expressão "quinta-feira às duas da tarde". Para ele, era o horário dos leitos ilegais e das paixões  fumegantes.


Victor Giudice in O museu Darbot, Leviatâ Publicações, págs.42/43

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