Para João de Jesus Paes Loureiro
Abro o guarda-chuva japonês
cinza
em cima da minha cabeça
e caminho em direção ao banco.
Pagarei minhas contas
olharei os olhos vermelhos
da moça do caixa
e observarei suas unhas claras.
Conversarei com outros clientes
sobre a vida
e direi que o governo é culpado de tudo.
Nunca mais esquecerei
esta mulher de boca acesa
na fila
atrás de mim.
Sairei depois à rua
e me sentirei um magnata
fora do tempo.
Encontrarei à manhã
vizinhos tristes
e direi palavras desnecessárias.
Enfim
sou um homem prático.
Já posso matar-me sem remorso.
Álvaro Alves de Faria in À Noite, Os Cavalos (2003)
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