Na quentura ardente das onze horas, quando o sol já começava a esbrasear, prenunciando a fornalha do meio-dia, sacudi a areia das sandálias emprestadas, corri a vista repetidamente pelas mulheres que mais me impressionaram, parando os olhos nos detalhes mais sensuais - e fui andando, já perdido de saudade delas, a fim de me abrigar no barraco mais próximo. Ia radiante e orgulhoso, levando nas retinas pedaços de coxas e promessa de prazeres que nunca mais esqueceria! Iam comigo as mocinhas esgalgadas dentro dos maiôs, os corpos exibidos no arrocho do aperto, gostosamente lambuzados de algum líquido que parecia o azeite de mamona de meu avô. As louras, então, aurifulgiam no meu alumbramento! Nem as figuras de revistas que me alucinavam na solidão do Murituba, uma vez ou outra chegadas pelo Correio sempre atrasado de Rio-das-Paridas, nem a visão de cachorras e porcas se atrepando nos machos, nada me insinuara tamanha excitação: o esfrega-esfrega das coxas e o pula-pula dos peitos, no passa-passa dos passos, e no mexe-mexe das bundas.
Francisco J.C. Dantas in Coivara da memória, Estação Liberdade, 1996, págs.325/326
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