segunda-feira, 8 de abril de 2019

Lily, uma garota alemã

Lily era uma garota alemã que parecia incrivelmente velha, usava vestidos brancos, ou que alguma vez tinham sido brancos, tinha um tipo de grito se anunciando na garganta, além de uma tosse mortal e densa, e tropeçava suavemente sob olhares masculinos. Sobre o magro pescoço de Lily, um rosto tinha sido colocado para que todo mundo olhasse e sentisse medo. A própria face era feita de carne verde e quase pútrida. Em cada bochecha uma mancha vermelha. Que não era ruge, mas a flor que a tuberculose planta na bochecha de seu escolhido. Um rosto vulgar, amplo e com traços pesados sobre o qual um sorriso estava sempre despencando inutilmente. À vezes, Lily sorria, mostrando vários dentes monstruosamente deteriorados e amarelos, dentes que, quase sempre, estavam fumando um cigarro. Suas mãos azuladas eram, de um modo muito interessante, estéreis; os dedos nervosos viviam em invólucros submissos de pele sardenta e pareciam quase vivos.
Ela deveria ter uns dezoito anos.



E.E.Cummings in A cela enorme, Editora UFPR, tradução de Luci Collin, págs.117/118 

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