domingo, 21 de julho de 2019

Noite dentro....

Fazia alguns anos, Lurdes se familiarizara com a noite que levava dentro. Não a noite espessa e agourenta, mas uma escuridão tranquila e vagarosa, em que as coisas se haviam acomodado. Apesar disso, de manhã, à mesa, tudo se coloria, e quando a filha e o marido tomavam café, e a fumaça evolava-se das xícaras, flores amarelas tinham se espalhado, distraídas, sobre a toalha: a mãe à cabeceira era a dona da casa. Nessas horas longe da escuridão, Lurdes convencia-se de que a filha era uma boa menina tomando seu leite, e que o marido, barba recém-feita, tinha a compenetração do recato.[...]

Cíntia Moscovich in Arquitetura do arco-íris, Record, pág.113

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