quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Como ele começou a fumar....

Levado por meu pai para assistir à inauguração de Brasília, deixei cair a jovem mandíbula ante tanta pompa, tanto fraque, tanta esquadrilha da fumaça, vendo passar em carro aberto o presidente Juscelino a distribuir acenos para nós, o populacho. Provavelmente me senti na obrigação de também eu fazer alguma coisa, qualquer coisa, para estar à altura do momento histórico – mesmo que essa coisa fosse me encostar no balcão de uma vendinha e, como quem anunciasse ao mundo a sua entrada na idade adulta, comprar o primeiro maço de cigarros, para a ele escravizar-me pelos 20 anos seguintes. A situação terá sido ainda mais risível, me ocorre agora, se a inspiração tabagística tiver vindo (desconfio que sim) do espetáculo daqueles aviões a esguichar fumo no céu da nova capital.

Humberto Werneck  no Estadão de 15 de outubro de 2019.

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