Metrô, Linha Verde, lotado. Duas mulheres lado a lado. A primeira, mais nova, segura-se no corrimão superior com a mão direita. A manga do casaco escorrega e deixa visível uma revoada de pássaros azuis, gaivotas ou pombos no mal traço do tatuador, começando no cotovelo e fazendo suave inflexão para a esquerda, como fossem sair do braço na altura do punho, abaixo do polegar. Para onde iriam, o que os atraíam para fora do corpo feminino? O trem dá um tranco "arruma-passageiros", para ninguém esquecer dos ônibus lotados nas avenidas acima do metrô. A domadora de pássaros levanta o braço esquerdo procurando novo apoio, revelando uma miríade de finas pulseiras prateadas e um grande relógio com grossa pulseira metálica. Seriam esses brilhos que atrairiam as gaivotas ou os pombos?
A outra mulher, à esquerda da primeira, cabelos loiros quase brancos, batom vermelhão no meio de uma pele muito rebocada, segura-se no balaustre vertical, também com a mão direita, duas destras. Com o solavanco do trem, ela sente necessidade de um apoio adicional, levantando o braço esquerdo em direção ao corrimão superior. A manga do casaco vermelho desliza desnudando um ramo de grandes rosas. Vejo o braço direito da primeira mulher fremir rápido, a mão deslizar para a esquerda no corrimão: são beija-flores!
José FRID
Nenhum comentário:
Postar um comentário