sexta-feira, 15 de maio de 2020

Velocidade x esquecimento

Quando evoquei a noite de Madame de T., lembrei a equação bem conhecida de um dos primeiros capítulos do manual da matemática existencial: o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento. Dessa equação, podemos deduzir diversos corolários, este, por exempto: nossa época se entrega ao demônio da velocidade e é por essa razão que se esquece tão facilmente de si mesma. Ou prefiro inverter essa afirmação e dizer: nossa época está obcecada pelo desejo do esquecimento e é para saciar esse desejo que se entrega ao demônio da velocidade; acelera o passo porque quer nos fazer compreender que não deseja mais ser lembrada; que está canada de si mesma; enjoada de si mesma; que quer soprar a pequena chama trêmula da memória.


Milan Kundera in A Lentidão, Nova Fronteira, 1995, págs. 136/137

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