quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Penhasco....

PELA PRIMEIRA VEZ SONHEI QUE FUI SUBINDO aos poucos num penhasco, de encosta a encosta, conseguindo chegar lá em cima e me sentando, mas de repente, ao olhar para baixo, vi que não era nenhum penhasco aonde a gente sobe aos poucos, mas abrupto - no sonho, nem pensar em descer pelo outro lado - como sempre, nos Sonhos com Lugares Altos, me preocupo em descer pelo mesmo caminho que me trouxe até ali, ou em corrigir meus próprios erros - e, muito embora saiba que se trata de sonho, enquanto perdura insisto que tenho que descer do alto do penhasco que galguei - o mesmo velho medo me agarra em convulsões mortais - "Mas, se é sonho, então o penhasco não é de verdade", digo comigo mesmo, "portanto simplesmente acorda & ele desaparecerá" - mal posso acreditar que seja possível e, trêmulo, abro os olhos & o sonho acabou, não tem mais penhasco, o terror passou. Esse, até que enfim, é o Sinal da Compaixão de Buda - noutras palavras, foi a primeira vez que sonhei que estava num lugar alto & e tinha medo de descer, mas sabia que era sonho & qualquer coisa me dizia para acordar & o lugar alto desapareceria, & abri os olhos & não havia mais nada 
Salvo!
Buda corrigiu meu erro por mim - 

Jack Kerouac in O Livro dos sonhos, L&PM Pocket, tradução de Milton Persson, pág.213 

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