"Mas além do brilho da grande burguesa, o que choca profundamente Marguerite é ter tido conhecimento da morte do rapaz. É saber que essa mulher, quase invisível de tão discreta, sem exuberância, sem amigos, com certeza calada, pode deixar louco de paixão um amante que se havia matado porque ela o abandonara. Ela tem a revelação de um universo feminino insuspeito. Pela primeira vez na vida, Marguerite ouve dizer que se pode morrer por amor. E que é uma mãe com gestos, atenções, preocupações maternais, uma mulher de um alto funcionário, que joga tênis, dança valsa, se entedia durante a tarde, que encerra esse poder assustador. Então, nesse país impregnado pelas crendices animistas, onde os mortos comandam os vivos, onde apenas os espíritos detêm o poder de governar os seres, aquela mulher também podia causar o fim? Ser, ao mesmo tempo, senhora de seus dias e portadora da morte? Em qualquer outro lugar, isso a teria levado à fogueira."
"...... De agora em diante, não entende mais nada. Primeiro sua mãe, que vive como freira desde a morte do pai. Toda sua existência girando em torno da casa, dos filhos, da despensa. Seu tempo é inteiramente tomado pela preocupação de arrumar, limpar, prevenir as doenças. E, depois, essa outra, também mãe de duas filhas, apta como aquela para enfrentar as necessidades domésticas, mas que possui a mais " esse corpo dotado de morte", que assume, ao mesmo tempo, o presente e o impossível da vida."
(Uma vida por escrito, sobre Marguerite Duras)
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