quarta-feira, 26 de setembro de 2007

CENA CARIOCA II





Quando eu publiquei aqui no blog, em sete de agosto (veja no post mais abaixo), uma foto mostrando um homem na maior tranqüilidade sentado num banco na calçada e um policia atirando do lado dele, vários amigos disseram que a foto era uma montagem, pois ninguém ficaria passivo com um tiroteio do seu lado.





Pois bem, um mês depois, sete de setembro, estou no Rio de Janeiro. Um belo dia de sol. Resolvo levar minhas feras caninas para passear no calçadão de Copacabana e Ipanema. Como é feriado, a pista junto à praia está fechada, virou área de lazer. Tem bastante gente na rua e nas areias da praia. A área está bem policiada, com policiais militares a cada esquina. Caminho rumo a Ipanema, passo pela Francisco Otaviano e entro na Vieira Souto. Mais policiamento ostensivo, como requerem os dias de hoje.


A avenida e a praia também estão lotadas, e mais e mais gente vai chegando pelas ruas transversais. O dia promete. Numa esquina flagro um policial falando no rádio da viatura:


- Eles estão de "esse pê dois" para disfarçar, esse pessoal é fogo!


Entendo que os "elementos" estão a pé, pois "SP-2" era uma gíria antiga, brincadeira com um modelo de automóvel produzido pela Wolks nos idos de 70. Passo em frente ao novo Hotel Fasano, de altíssimo padrão. Uma tropa de seguranças de ternos pretos guarda a porta do hotel, coisa típica de hotéis desse padrão em qualquer lugar do mundo.


Caminho pela calçada junto aos prédios para aproveitar a sombra, as cadelas já estão com meio metro de língua para fora. Por ali seguem cães levando os donos para passear, velhinhos e suas enfermeiras, criancinhas e seus pais ou babás, deficientes, etc. De repente, não mais que de repente, surge um policial militar com uniforme de batalha e um fuzil-metralhadora-escopeta na mão (não sou entendido em armas, parecia algo estilo exterminador do futuro), com mais de metro de comprimento, grossão, pronto para atirar. Ele olha para os lados, procura alguém, talvez os meliantes do "SP2".


Fico apreensivo com o policial e seu trabuco, pois se ele encontrar quem procura será bala (perdida?) para todo lado. Digo para minha mulher que é melhor a gente entrar na primeira rua transversal, para fugir do possível tiroteio. Apertamos o passo até a próxima esquina, mas ao chegar lá ...... surpresa!!


Dois policiais, armados como o primeiro, revistavam três pessoas ariscas e suas mochilas. Outro foco de tiroteio. Olhamos para trás, o outro policial continuava procurando alguém entre os transeuntes, mas caminhava em sentido oposto ao nosso. Resolvemos, então, seguir acelerado pela Vieira Souto mais uma quadra, esgoelando as cadelinhas, até a salvadora esquina.


Mas só nós. Os cariocas nem aí para os policiais, ninguém apressando o passo ou desviando do caminho ou procurando abrigo contra a possível chuva de bala. Mais adiante, um automóvel preto bloqueia nossa caminhada, está sobre a calçada esperando o portão da garagem do prédio abrir. Quem controla o portão? Um segurança particular armado, com revolver no coldre e cinturão de balas. Faroeste?


Começamos a notar que nos prédios mais luxuosos, de milhões de reais, há sempre um ou dois (!!) seguranças ostensivamente armados flanando na calçada, sem qualquer proteção, facilmente desarmados. E ninguém preocupado com as possíveis balas perdidas que poderiam surgir com tanta gente armada.




Em Roma, como os romanos. No Rio, como os cariocas. Seguimos o conselho infeliz da ministra e seguimos pela orla mesmo, passos afrouxados, cachorrinhas parando para cheirar tudo, que bala que nada.




Duas quadras à frente, deparamos com dois policiais fazendo uma "batida" no trânsito, procurando suspeitos nos automóveis e ônibus, os trabucos apontados para os veículos. Eles contam com o apoio de uma viatura, estacionada na contra-mão, estrangulando o tráfego. Se eles acham os meliantes, balas pra todo o lado!!




E os cariocas? Caminhando, algumas no "doce balanço" a caminho do mar, outros "cervejando" nos quiosques, patinando, correndo ou pedalando na ciclovia, etc., como se aquela operação militar, potencialmente perigosa para todos os circundantes, fosse a coisa mais normal do mundo. Talvez em Bagdá, na Faixa de Gaza, Mogadício, .............




CONCLUSÃO: A FOTO É VERÍDICA, APENAS REGISTRA UMA CIDADE EM GUERRA!


José FRID


2 comentários:

Anônimo disse...

Puxa, que coisa triste, não? Aquilo que é anormal, incomum, tamanha a freqüência que ocorre, torna-se comum, cotidiano...passa a fazer parte do dia-a-dia...Como se fosse até parte das “atrações turísticas” do Rio! (Pior que Sampa está “caminhando” pra isso também).

Quiçá seja uma “fase” passageira...

Beijos,

Anônimo disse...

E a loira Hebe, pasme, chegou a fazer propaganda da cidade maravilhosa, afirmando e indo mesmo morar lá ... por algum tempo, por ser mais segura do que aqui. São Paulo precisa não entrar na onda da liberalidade demasiada, como já anda fazendo ao conceder prisão em sistema aberto, por exemplo, para o maníaco da Cantareira que, pela estimativa, já deve ter feito meia dúzia de vítimas.