"A Idade Média sempre nos remete a um período de grandes batalhas e de desenvolvimento tecnológico a serviço da guerra. Foi um tempo em que se investiu em fortalezas monumentais, como a praça-forte de Vauban e o Forte de Salses, na França, quando havia até o cargo de diretor de fortificações da Alsácia. Embora esteja muito longe de ser comparada à Fortaleza de Sacsahuamán, construída pelos incas, nos Andes, a megafortaleza do tráfico na Mangueira é de uma imponência de dar medo (foto acima, de Michel Filho, na primeira página do GLOBO de 9 de janeiro).
Do alto do morro ligado a uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio e talvez do país, os bandidos construíram uma cidadela no sentido mais estratégico da palavra para defender seu território não apenas da polícia como de seus eventuais adversários, como quadrilhas rivais e milícias. Dali tinham um posto militar de observação, como poucas instituições policiais têm hoje no Estado do Rio. Poderiam acionar seu dispostivo militar ao menor sinal de aproximação de carros em comboio, na Avenida Marechal Rondon. ou na Rua Visconde de Niterói. De binóculos poderiam acompanhar a movimentação de qualquer veículo "suspeito" que se aproximasse do território dominado pelo tráfico.
Mas o que mais impressiona nesse "muro da vergonha" erguido no alto da favela é o fato de ter sido construído sem que nenhuma autoridade tomasse conhecimento em tempo hábil de impedir a construção e deter seus responsáveis, tanto pelo projeto como pela excecução. Não se sabe de nenhuma pista dada ao Disque-Denúncia (2253-1177), por exemplo. Não se sabe de nenhum relatório ou informe sobre o fato, produzido por agências de inteligência policial - exceto a própria investigação da 17a DP (São Cristóvão) e as escutas telefônicas feitas com autorização judicial. E isso tudo mesmo existindo - como me lembrou ontem o Ancelmo - um posto policial na Mangueira, um Destacamento Policiamento Ostensivo (DPO), que pelo que parece não contribui nem mesmo para a inteligência policial.
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