(Por Kenneth Maxwell – Folha de São Paulo)
De fato, eu recomendaria abrir mão da praia por pelo menos um final de semana e dedicar o domingo a explorar o centro vazio da cidade.
A última vez que o fiz foi em novembro. Ver os edifícios municipais de perto foi maravilhoso. Contemplar as obras de Aleijadinho em exposição no esmerado e antigo edifício do Banco do Brasil. O passeio pela mansão da marquesa de Santos. O almoço no Pátio do Colégio. Até mesmo a algo bizarra descoberta de que um osso da coxa do padre José de Anchieta está exposto no oratório que fica ao lado da entrada principal da igreja. E tudo isso sem virtualmente ninguém por perto, o que propiciava tempo suficiente para desfrutar de todas as atrações.
O domingo passado começou com uma longa caminhada pelo parque Ibirapuera, lotado de paulistanos felizes e cachorros e skatistas, ciclistas e corredores. O Exército também estava presente.
Soldados demonstravam diversos aparatos de carga que usam cordas e roldanas, imensamente populares entre as crianças. Depois, o Museu Afro-Brasileiro: que coleção extraordinária, um acúmulo quase exagerado de maravilhas.
Houve recentemente uma exposição enorme em Washington, e enormemente dispendiosa, sobre os encontros globais dos portugueses. As galerias dedicadas à Índia, à China e ao Japão eram excelentes.
Mas a seção sobre o Brasil decepcionava e se concentrava nas conhecidas pinturas dos holandeses Post e Eckhout sobre o Pernambuco do século 17 e no barroco colonial brasileiro, um período que sofre de exposição excessiva. O conteúdo de qualquer uma das seções do Museu Afro-Brasileiro do Ibirapuera teria sido infinitamente mais interessante.
Na final da tarde, um soberbo concerto na Sala São Paulo, instalada na renovada estação ferroviária Júlio Prestes: Bach, Bartók e Bottesini, e uma platéia de centenas de entusiastas da música clássica apreciando o espetáculo. Depois, da sala de concertos eruditos para as ruas: largo do Arouche e avenida Vieira de Carvalho, para um delicioso galeto desossado e chope.
Do lado de fora do restaurante, uma parada informal e bem-humorada de gays musculosos (e nem tão musculosos), travestis e lésbicas, de todas as classes, etnias e idades, caminhando de lá para cá, de modo semelhante ao que costumava caracterizar o "footing" ao longo da avenida Nossa Senhora de Copacabana no Rio de Janeiro dos anos 60, um hábito que desapareceu há muito.
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