Pimenta arde para evitar ataque de fungo
Concentração de moléculas irritantes nos frutos varia com grau de incidência do micróbio, diz estudo
Amit Dave - 25.fev.04/Reuters |
Lavrador colhe chilis na Índia, país exportador dessa pimenta
RICARDO BONALUME NETO (Folha de São Paulo)
Quanto mais quente, melhor - especialmente quando se trata de pimenta e quando a pimenteira tenta sobreviver a micróbios que afetam sua capacidade de reprodução.
Uma elegante pesquisa de cientistas bolivianos e americanos mostrou que uma mesma espécie do gênero de plantas do qual fazem parte a pimenta chili e a popular malagueta brasileira varia o ardor do seu fruto de acordo com a ameaça, maior ou menor, de um fungo causador de doença.
Os fãs de condimentos "quentes" devem, portanto, agradecer ao fungo Fusarium semitectum por forçar as plantas a produzirem frutos cada vez mais ardidos.
Trata-se da primeira demonstração prática, em campo, de um aspecto importante da "guerra química" entre uma planta e um micróbio: que a defesa bioquímica varia com a intensidade da ameaça.
As mesmas substâncias que dão o ardido à pimenta impedem o fungo de causar estragos maiores. Quanto mais presentes as moléculas do ardor, as chamadas capsaicinas, mais forte é a proteção.
As propriedades antimicrobianas das pimentas ajudam a explicar o porquê de um em cada quatro seres humanos consumir o produto a cada dia.
O estudo foi feito por sete pesquisadores dos dois países, liderados por Joshua Tewksbury, da Universidade de Washington em Seattle, oeste dos Estados Unidos. Ele está publicado na edição de hoje da revista científica "PNAS".
O estudo da equipe de Tewksbury foi feito com a pimenta chili da espécie Capsicum chacoense, comum na região do Chaco, entre Bolívia, Paraguai e Argentina.
Paradoxo
Em geral, não é uma boa idéia para uma planta ter frutos muito ardidos ou amargos. A função principal de uma fruta, dizem os autores do estudo logo na sua primeira frase, é atrair animais para dispersar sementes viáveis através das suas fezes. É um caso de amor ou rejeição à primeira mordida.
Outros consumidores são menos desejados: insetos que atacam os frutos e micróbios que destroem as sementes em vez de dispersá-las. No caso da pimenta estudada, o buraco feito pelo inseto era o canal perfeito para a invasão do fungo.
A planta tenta se defender dessas pragas microscópicas produzindo substâncias tóxicas. Mas não pode exagerar na dose, senão os animais dispersores passam a evitar frutos ardidos demais. É um autêntico "come-lá-dá-cá".
Foram estudadas sete populações da pimenteira, distribuídas em 1.600 km2 de território boliviano, e notou-se que, quanto maior o risco de ataque por inseto ou por fungo em uma região, maior a quantidade das capsaicinas.
COMENTÁRIO DO FRID:
A NATUREZA É BELA E SÁBIA!!
RICARDO BONALUME NETO (Folha de São Paulo)
Quanto mais quente, melhor - especialmente quando se trata de pimenta e quando a pimenteira tenta sobreviver a micróbios que afetam sua capacidade de reprodução.
Uma elegante pesquisa de cientistas bolivianos e americanos mostrou que uma mesma espécie do gênero de plantas do qual fazem parte a pimenta chili e a popular malagueta brasileira varia o ardor do seu fruto de acordo com a ameaça, maior ou menor, de um fungo causador de doença.
Os fãs de condimentos "quentes" devem, portanto, agradecer ao fungo Fusarium semitectum por forçar as plantas a produzirem frutos cada vez mais ardidos.
Trata-se da primeira demonstração prática, em campo, de um aspecto importante da "guerra química" entre uma planta e um micróbio: que a defesa bioquímica varia com a intensidade da ameaça.
As mesmas substâncias que dão o ardido à pimenta impedem o fungo de causar estragos maiores. Quanto mais presentes as moléculas do ardor, as chamadas capsaicinas, mais forte é a proteção.
As propriedades antimicrobianas das pimentas ajudam a explicar o porquê de um em cada quatro seres humanos consumir o produto a cada dia.
O estudo foi feito por sete pesquisadores dos dois países, liderados por Joshua Tewksbury, da Universidade de Washington em Seattle, oeste dos Estados Unidos. Ele está publicado na edição de hoje da revista científica "PNAS".
O estudo da equipe de Tewksbury foi feito com a pimenta chili da espécie Capsicum chacoense, comum na região do Chaco, entre Bolívia, Paraguai e Argentina.
Paradoxo
Em geral, não é uma boa idéia para uma planta ter frutos muito ardidos ou amargos. A função principal de uma fruta, dizem os autores do estudo logo na sua primeira frase, é atrair animais para dispersar sementes viáveis através das suas fezes. É um caso de amor ou rejeição à primeira mordida.
Outros consumidores são menos desejados: insetos que atacam os frutos e micróbios que destroem as sementes em vez de dispersá-las. No caso da pimenta estudada, o buraco feito pelo inseto era o canal perfeito para a invasão do fungo.
A planta tenta se defender dessas pragas microscópicas produzindo substâncias tóxicas. Mas não pode exagerar na dose, senão os animais dispersores passam a evitar frutos ardidos demais. É um autêntico "come-lá-dá-cá".
Foram estudadas sete populações da pimenteira, distribuídas em 1.600 km2 de território boliviano, e notou-se que, quanto maior o risco de ataque por inseto ou por fungo em uma região, maior a quantidade das capsaicinas.
COMENTÁRIO DO FRID:
A NATUREZA É BELA E SÁBIA!!
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