Meus amigos, o que significa a vitória de Eduardo Paes na disputa da Prefeitura do Rio? Significa, precisamente, a vitória do 'mais do mesmo', do fisiologismo, do jogo sujo, da lógica segundo a qual os fins justificam os meios, quaisquer que sejam. Não há como se esquivar desse lamentável fato.
O resultado indica, também, uma oportunidade perdida. Sim, porque tivemos uma inédita chance de virada. De experimentar, no Rio de Janeiro, um modo diferente de fazer política. Com limpeza, transparência, sinceridade. E foi por pouco, muito pouco.
Faltou, talvez, a generosidade daqueles que preferiam, por suposto purismo ideológico, obediência acrítica a seus líderes políticos ou afeição cega à velha congifuração do que seja 'esquerda', votar nulo. Lavando as mãos, se abstiveram de decidir e ficaram tranqüilos com a própria consciência. Mas esqueceram da cidade.
A forma como Paes conduziu a campanha seria razão suficiente para o repúdio à sua candidatura. E não venham me falar de companhias. As de Paes eram Picciani, Benedita da Silva, Jorge Babu, vereadores milicianos... Aliás, é muito reveladora a reportagem-perfil publicada em O Globo de hoje. Assinada pela jornalista Maiá Menezes, a matéria informa que o livro de cabeceira do novo prefeito é Breviário dos políticos, escrito pelo cardeal francês Jules Mazarin. "Simula, dissimula. Mostra-te amigo de todo mundo", diz um dos trechos do livro. Frase-emblema.
Mas há uma segunda pergunta que se impõe: o que significa a derrota de Fernando Gabeira? Decerto não significa um fracasso. Foi, em verdade, uma derrota-vitória. Quem poderia imaginar, há um ano, que um candidato como Gabeira – libertário, independente, defensor de teses tão polêmicas quanto justas, como a profissionalização da prostituição – pudesse sequer chegar ao segundo turno em uma eleição majoritária? Pois ele chegou, movimentou um pleito que andava desanimado e teve praticamente a metade dos votos dos cariocas. Um sinal claro de que o eleitorado amadureceu.
Não vou esquecer as cenas a que assisti no fim da manhã de hoje, quando desci para ler os jornais e tomar um chope na Rua das Laranjeiras. As pessoas vestindo roupas verdes, cheias de adesivos, o sorriso no rosto indicando uma alegria e também uma esperança. Há muito não via essa crença na possibilidade de mudança, essa altivez cívica. Foi bonito.
Por isso tudo é que não tenho dúvidas: Gabeira sai dessa campanha muito maior do que entrou. Paes, embora tenha vencido, se amesquinhou.
Marcelo Moutinho
(via Blog da Adriana Lisboa)
Atualização em 2013: Palavras proféticas! Rio devastado pela turma do Paes, que conseguiu se reeleger e mantém suas práticas nefastas!
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