terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Aperitivos do novo livro de Ferreira Gullar

O meu gato
na cadeira
se coça
corto papéis na sala
a manhã clara canta na janela
estou eterno
(Flagrante)
É alta madrugada. A culpa
joga damas comigo
no entressono. Cismo
que ela me engana
mas não bispo o seu logro.
Ganho? Perco? Blefo?
Afinal, qual de nós rouba no jogo?
(Insônia)
Em algum lugar
esplende uma corola
de cor vermelho queimado
metálica
Não está em nenhum jarro
da sala
ou na janela
Não cheira
não atrai abelhas
não murchará
apenas fulge
em alguma parte
da vida
(Uma Corola)
Ferreira Gullar - Estadão, 18/01/09

Nenhum comentário: